sexta-feira, 9 de março de 2012

MAIS UM MOTIVO: Descascando o abacaxi

Todo mundo pensa que é ficção científica essa coisa de um mundo dominado por máquinas. Hoje, mais um motivo, fomos em cortejo, OPA! mais GIA, do Santo Antônio até a Rótula do Abacaxi. O carrinho de bebê do OPAVIVARÁ! em caminhada orgiástica com o carrinho do GIA. Som, água de coco e cachaças aromáticas. É luxo só. Durante todo o trajeto a procissão de cores e prazeres decidia não sofrer diante da quase impossibilidade de se caminhar pela cidade. É fácil perceber como nada ali é pensado para a dimensão do corpo humano. Calçadas estreitas, cheias de obstáculos. O espaço dos carros espreme o pedestre no canto, quase de lado, estilo pintura egípcia na parede. Comprem um carro, devem pensar os engenheiros. O ideal do aparelho megaindustrial. Mas avançamos, cantando, dançando, bebendo, refrescando o calor sem árvores da cidade numa caminhada descolonizadora. Ao invadir uma obra, de mais uma rodovia que se abre para os carros, sem nenhum pensamento para os ambulantes, os carrinhos arrastaram os operários que saíram do enorme caminhão para sambar no asfalto fresco, de volta à dimensão humana. Depois da curva começa a subida do viaduto da Rótula do Abacaxi, e que abacaxi. Toneladas de concreto armado avançam pelo céu, rampa de lançamento para veículos que não decolam. Enquanto isso avançamos e ao som da música, das bebidas, das conversas e interações, nós decolamos. Aterramos ao lado do insólito coqueiro abacaxi. Uma árvore que resiste ao céu de concreto e convida a uma reflexão sobre sua estrutura orgânica, em mutação, e o mundo dominado pelas máquinas que agora flutuam sobre ele. Ali fincamos nosso acampamento. Esteiras de palha, cadeiras de praia coletivas, churrasqueira improvisada e pessoas, convidados são sempre todos. O coqueiro é o corpo estranho ou o viaduto é que é insólito? Não são os pilares de cimento que sustentam o viaduto, é o coqueiro quem sustenta isso tudo. O dia avança e quem passa traz consigo o horário de pico, a imposição da necessidade de eficiência, trabalho, produtividade. Quem para por ali instaura um cantinho de prazer, um lugar de produção de subjetividades para um pedaço morto da cidade. Por que a obra milionária não pensa em quem passa a pé? Nós pensamos, acredite em suas ações. Novos amigos vão se chegando e a festa está armada. A festa, esse lugar no qual se vive plenamente o presente. A churrasqueira, o pic-nic, a cozinha coletiva. Cozinhar é um ato revolucionário. A pressa desenfreada da cidade parece diminuir de velocidade e o vento faz o coqueiro falar no tisc tisc tisc das folhas roçando. Parece que ele quer dançar com a gente, fantasiado e colorido como estamos todos. Vamos então dançando com ele, por toda a cidade, vestidos de prazer e desaceleração.





























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