Todo
mundo pensa que é ficção científica essa coisa de um mundo dominado por
máquinas. Hoje, mais um motivo, fomos em cortejo, OPA! mais GIA, do Santo
Antônio até a Rótula do Abacaxi. O carrinho de bebê do OPAVIVARÁ! em caminhada
orgiástica com o carrinho do GIA. Som, água de coco e cachaças aromáticas. É
luxo só. Durante todo o trajeto a procissão de cores e prazeres decidia não
sofrer diante da quase impossibilidade de se caminhar pela cidade. É fácil
perceber como nada ali é pensado para a dimensão do corpo humano. Calçadas
estreitas, cheias de obstáculos. O espaço dos carros espreme o pedestre no
canto, quase de lado, estilo pintura egípcia na parede. Comprem um carro, devem
pensar os engenheiros. O ideal do aparelho megaindustrial. Mas avançamos,
cantando, dançando, bebendo, refrescando o calor sem árvores da cidade numa
caminhada descolonizadora. Ao invadir uma obra, de mais uma rodovia que se abre
para os carros, sem nenhum pensamento para os ambulantes, os carrinhos
arrastaram os operários que saíram do enorme caminhão para sambar no asfalto
fresco, de volta à dimensão humana. Depois da curva começa a subida do viaduto
da Rótula do Abacaxi, e que abacaxi. Toneladas de concreto armado avançam pelo
céu, rampa de lançamento para veículos que não decolam. Enquanto isso avançamos
e ao som da música, das bebidas, das conversas e interações, nós decolamos.
Aterramos ao lado do insólito coqueiro abacaxi. Uma árvore que resiste ao céu
de concreto e convida a uma reflexão sobre sua estrutura orgânica, em mutação,
e o mundo dominado pelas máquinas que agora flutuam sobre ele. Ali fincamos
nosso acampamento. Esteiras de palha, cadeiras de praia coletivas,
churrasqueira improvisada e pessoas, convidados são sempre todos. O coqueiro é
o corpo estranho ou o viaduto é que é insólito? Não são os pilares de cimento
que sustentam o viaduto, é o coqueiro quem sustenta isso tudo. O dia avança e
quem passa traz consigo o horário de pico, a imposição da necessidade de
eficiência, trabalho, produtividade. Quem para por ali instaura um cantinho de
prazer, um lugar de produção de subjetividades para um pedaço morto da cidade.
Por que a obra milionária não pensa em quem passa a pé? Nós pensamos, acredite
em suas ações. Novos amigos vão se chegando e a festa está armada. A festa, esse
lugar no qual se vive plenamente o presente. A churrasqueira, o pic-nic, a
cozinha coletiva. Cozinhar é um ato revolucionário. A pressa desenfreada da
cidade parece diminuir de velocidade e o vento faz o coqueiro falar no tisc
tisc tisc das folhas roçando. Parece que ele quer dançar com a gente,
fantasiado e colorido como estamos todos. Vamos então dançando com ele, por
toda a cidade, vestidos de prazer e desaceleração.
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